Era uma vez uma lanterna que vivia num apartamento do
Edifício Enéias Carneiro. Um dia, uma tartaruga veio ao seu encontro.
— Com licença — perguntou a tartaruga. — Por acaso
você sabe onde fica o banheiro?
— O banheiro fica logo atrás daquela porta — respostou
a lanterna.
A tartaruga seguiu o caminho e, no banheiro, encontrou
algo peculiar. Era um projétil que foi utilizado pelo morador do apartamento 20
anos atrás num trabalho de escola que fizera na 5a série. O animal
acreditara que aquilo pertenceu a alguma tribo indígena e resolveu perguntar
aos moradores do quarto de dormir.
— É só uma flecha de papelão. — Disse a gravata.
— Isso aí tem pouco mais de uma década. — Falou o
lápis de cor.
— Onde você encontrou isso? — Perguntou o travesseiro
— A informação que você imaginava é falsa. — Disse a
lanterna, finalmente.
Após o cair da noite, a tartaruga percebeu algo na
fechadura da porta. De imediato, reportou a observação a sua amiga lanterna, a qual
alumiou o local a maçaneta. Vendo que não havia nada de errado, voltou a
dormir.
Alguns instantes depois, a porta se abriu e uma pessoa
entrou no quarto. Era Sebastião, morador daquele apartamento. Tranquila, a
tartaruga continuou o sono.
Foi um momento de extrema felicidade quando a lanterna
recebeu um convite do abajur para jantar em um castelo com decorações
medievais. Sua amiga tartaruga levou a lanterna para fazer o cabelo, as unhas
dos pés e das mãos — mesmo não tendo nada disso — e ajustar o brilho de sua
luz.
Lá pelas seis da tarde, a lanterna chamou um Uber para
vir buscá-la. No entanto, ela não sabia exatamente como usar o aplicativo de
carona e então resolveu pegar um ônibus. Ela também não tinha ideia de como
pegar um ônibus, principalmente numa cidade como Juca Leão. Foi aí que a
lanterna teve a brilhante ideia de ir a pé para o castelo — a apenas 10 km do
Edifício Enéias Carneiro.
O abajur, que era conhecido por sua pontualidade britânica,
chegara ao local combinado com dez minutos de antecedência.
— O senhor quer dar uma olhada no cardápio? —
perguntava um garçom.
— Agora não, estou esperando uma pessoa... — respondia
o abajur.
— O senhor aceita um couvert? — perguntava outro garçom.
— Estou esperando...
E as perguntas repetiam-se, sempre com a mesma
resposta. Até que o abajur perdeu a paciência, depois de uma hora e meia
esperando, e foi embora.
Enquanto esperava o Uber, viu um feixe de luz cruzando
o horizonte. Depois de cinco minutos, percebeu que o feixe de luz pertencia à
lanterna, a garota que convidara para jantar.
— Desculpe a demora! — gritou a lanterna.
— Você demorou quase duas horas! Achei que não viesse! — disse o abajur.
— Resolvi ir a pé, mas como não tenho nenhum, ficou
meio complicado se arrastar por aí...
— Venha senhorita, a mesa ainda está reservada para
nós. Você deve estar faminta!
— Como foi o jantar? — perguntou a tartaruga, curiosa,
para sua amiga.
— Foi delicioso! Nós comemos estrogonofe de frango com
batata palha e, de sobremesa, mousse
de chocloate! — disse a lanterna.
O debate estava tão caloroso, que as duas amigas nem
perceberam a visita de uma comadre. Ela estava polinizando as violetas do
quarto de Sebastião.
— Bom dia, comadres! — cumprimentou a comadre abelha.
— Olá! — disseram a tartaruga e a lanterna, em
uníssono.
— Como é? Conseguiu fazer o seu marido parar de beber?
— perguntou a tartaruga.
— Pode-se dizer que sim! — respostou a comadre abelha.
— Do que é que as comadres estão conversando?
— Estou contando a história de quando fui a um
encontro com o abajur e cheguei atrasada... — falou a lanterna.
— Isso me lembra duma história — disse a comadre
abelha, puxando uma cadeira e sentando-se — de quando eu cheguei atrasada no
Enem. Era uma tarde quente de final de outubro, eu e minhas amigas operárias
passamos a manhã brincando em uma fonte em frente à colmeia. Foi tão divertido
que nos esquecemos do horário! Uma de minhas colegas, Gertrudes, lembrou-se do
Exame e dirigimo-nos para colmeia arrumar-nos. — A comadre abelha respira. —
Mesmo voando a uma velocidade de 15 km/h, não conseguimos chegar a tempo e os
portões fecharam-se.
Certa noite, a lanterna recebeu uma visita inesperada.
Era Luigi, filho de Sebastião. O garoto acamparia com a escola durante uma
semana, e ele precisava de uma lanterna. Seu pai ofereceu a sua e o menino
aceitou-a.
— Muito obrigado, pai! — exclamou Luigi.
Algo aconteceu, porém, no acampamento. Uns moleques implicavam
com Luigi. Eles apostavam quem lançava a lanterna mais alto que a árvore.
Na vez de Luigi, ao arremessar a lanterna, esta caiu
na ribanceira próxima da árvore. Como estava escuro, era impossível ver
qualquer coisa, quanto menos uma lanterna!
Aquele foi o fim de uma trajetória de longo tempo da
lanterna. Depois de passar pelas mãos de Dom Amós, em 1850, ela ainda passou
por Sir Timóteo Montenegro II, na década de 1880; Dr. Hélio, em 1910; Sr
Sebastião, por volta de 1940; e agora, a lanterna era perdida nas mãos de Luigi,
em setembro de 1953. Nunca que ela chegaria às mãos do futuro prefeito do
município de Juca Leão, Heinrich Zürich.
Escrevi a história com base nesses pictogramas. |
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