sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O garoto misterioso

Na distante cidade de Juca Leão (interior de São Paulo) — em junho de 1912 —, o vento soprava com a mesma velocidade que nos dias anteriores. Plantas eram regadas. Bolos eram deixados à janela para esfriar. Crianças brincavam junto à calçada. Nada muito anormal ocorrera nas últimas semanas. Pelo menos por enquanto.
Matheus, Eduardo, Isabela e Sofia — integrantes do grupo de espionagem e investigação MEIS — reuniam-se em seu quartel general para discutir assuntos importantes como decidir a cor do novo tapete da recepção.
“Imagino que mostarda combine com o vidro da janela”, dizia Eduardo.
“O tapete deve ser rosa!”, implicava Isabela.
De repente, ouve-se um som surdo, como se algo caísse em território alheio.
“Ouviram isso?”, perguntou Sofia.
“É apenas o jardineiro cortando a grama”, disse Matheus.
“Estou referindo-me ao outro barulho!”, Sofia continuava. “Precisamos investigar.” Dizendo isso, Sofia, que era alta, tinha cabelos longos e não se importava com o que falavam sobre o que ela não deveria fazer, saiu do QG rumo à fonte sonora.
Os integrantes estavam na frente da casa das Begônias Amarelas. Havia uma cápsula enorme soterrada no solo, formando uma cratera bem na garagem!
“É um óvni!”, disse Jonas, o vizinho da esquerda. “Ele vai nos matar!”
“Pior!”, disse Maria Joaquina, sua esposa. “Ele fará ensopado da gente e depois nos comerá com crouton!”
Mais tarde, saiu do óvni, meio desorientado, meio cambaleante, meio atordoado, um garoto, de mais ou menos 10 anos. Ele estava nu.
“Não há o que temer.”, disse Matheus, o líder do grupo da Salvação (MEIS). “Estamos aqui...”
“Para ajudar.”, completou Isabela.
O grupo levou o garoto extraterrestre para seu quartel general, deu-lhe o que vestir e alimentaram-no. Quando o alienígena já estava satisfeito, Eduardo aproximou-se dele e perguntou:
“Quem é você e de onde veio?”
Ele respondeu que seu nome era Thiago Afonso e que morava no planeta Azeitona, no país de Javalândia. Seus pais haviam enviado-o ao planeta Terra devido a recente invasão em Azeitona, como uma esperança aos Javalandeses. Thiago pousara numa supernova, para abastecer e “fazer uma boquinha” (palavras dele) quando percebeu que estava despencando e caiu diretamente na Terra.
Os quatro amigos entreolhavam-se, maravilhados e incrédulos.
“Devemos comunicar as autoridades?”, perguntou Isabela, cética.
“Se fizermos isso”, disse Sofia “o Governo submeteria o garoto a testes e isso poderia machucá-lo”.
Thiago Afonso puxou a manga de Matheus.
“Posso me juntar ao grupo de vocês? Tenho experiência...”
“Se você quiser juntar-se a nós, pequeno...”, disse Eduardo.
“Você deve merecer.”, completou Isabela.
“Passará por uma série de provações, assim poderemos ter certeza de que você é digno de pertencer ao grupo da Salvação — o MEIS.”, disse Matheus.
Os amigos sabiam que chegara a hora de comunicar Marcello Bernoulli.
Marcello Bernoulli, mais conhecido como “Bebelaytor”, era um imigrante italiano que veio ao Brasil tentar a vida como comerciante. Na verdade, quando ninguém estava olhando, Bernoulli era o arqui-inimigo do MEIS, e sua arma mais poderosa e temida levou o nome da alcunha de seu criador, e era capaz de retardar a idade das pessoas.

O grupo da Salvação levou Thiago Afonso para uma sala escura e fechada, depois saíram, deixando o garoto a sós. Pelo menos por um instante. As luzes acenderam-se e uma cadeira de rodinhas revelou-se. Havia um homem sentado nela. Thiago viu a cadeira girar-se, apresentando um homem vestindo um terno risca-giz e uma gravata cor-de-rosa. Ele segurava um gato e fumava um charuto. Um chapéu Fedora pendia em sua cabeça.
“Você deve ser o alienígena Thiago Afonso”, disse o homem. “Meu nome e Marcello Bernoulli, mas pode me chamar de ‘Bebelaytor’”.
Thiago Afonso não respondeu.
“Seus novos amigos me chamaram para provação.”, continuou o comerciante. “Você é capaz, bambino?”
“Nós vamos lutar?”, gaguejou Thiago. “De onde eu venho nós aprendemos a lidar com as adversidades com diálogo...”
Bernoulli deu uma risada seca.
“Mas nós não estamos no lugar de onde você veio.”
O imigrante italiano arremessou o gato e o charuto para longe, levantou-se em direção ao garoto e desferiu-lhe um soco. Thiago Afonso caiu no chão.
Bernoulli riu.
“Isso será fácil demais! Você é muito fraco.”
O garoto levantou-se, tirando a poeira dos ombros e, limpando o sangue no canto da boca, disse:
“Isso não são modos de tratar um estrangeiro.”
Thiago Afonso socou aqui, ali e depois aqui, de novo. No entanto, suas ações não tinham efeito contra o italiano durão.
Bernoulli riu. O sangue começou a fluir pelos capilares do menino. Lembranças de Javalândia invadiram sua mente. Lembrou-se de sua família, seus amigos, seu treinamento, seus superpoderes... De uma vez por todas, Thiago sentiu-se mais forte que um crocodilo no cio. Deu um salto e, ao retornar ao solo com o punho cerrado, causou uma movimentação que fez atirar Marcello Bernoulli às alturas!
Matheus, Eduardo, Isabela e Sofia — que estavam observando tudo — entraram na sala e disseram, em uníssono:

“Thiago Afonso, você é oficialmente um integrante do grupo da Salvação, o MEIS!”


Maria Joaquina e Jonas ficaram assustados com a visita do alienígena.

domingo, 19 de novembro de 2017

Turn around

Em um ano, descobri três versões diferentes da mesma música: a original, a francesa e a dance.
Como fui aprovado direto no 6o ano, sem a necessidade de fazer recuperação, eu tinha dois meses de férias para fazer o que bem quisesse.
Em certo filme, chamado “Diário de um banana”, há uma cena em que os personagens, os quais são estudantes ginasiais, fazem uma audição para uma peça de teatro. A música que eles cantam nessa audição tem um refrão muito conhecido. Trata-se de Turn around.
Quando eu assisti ao filme, no lançamento, em 2010, reconheci a letra de cara, mas não sabia o nome da música; nem quem a interpretrava. Entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, iniciei um projeto de investigação para saber que música era aquela.
Horas de pesquisa, seguidas de dias de perseverança, finalmente encontrei o nome da música. Chamava-se Total eclipse of the heart e era interpretada por Bonnie Tyler. Essa era a original.



Em 2012, já no 7o ano, em certa aula de Inglês, os alunos propuseram colocar uma música para contribuir na resolução dos exercícios. A professora recusou o pedido, mas eu fui à frente da sala conversar com ela. Falei que seria interessante colocar a música Total eclipse of the heart. A professora me disse que essa música era muito boa e que tinha uma versão ainda melhor em francês, cujo ritmo era o mesmo, mas com letras deiferentes.
“O ritmo é o mesmo, mas a letra é diferente...” dizia a professora de Inglês.


Nesse mesmo ano, durante as aulas de Educação Física, nós, os alunos, fazíamos exercícios aeróbicos, com alguma frequência. E, nesses aeróbicos, valia tudo, desde bambolês até pesos de ginástica eram utilizados. Os equipamentos eram organizados em estações com cerca de cinco ou seis alunos em cada.
Para tornar a atividade menos intensa, o professor de Educação Física colocava alguma música, geralmente daquele tipo específico para malhar. Primeiro, a iniciativa das músicas partiu do professor e, depois, dos alunos.
A música Total eclipse of the heart tem um caráter romântico, talvez melancólico! Durante uma dessas aulas de exercícios aeróbicos, escutei um som familiar. Tratava-se de nada mais, nada menos do que a música de Bonnie Tyler em um estilo dance! Achei aquilo surreal!



sábado, 18 de novembro de 2017

A lanterna que perdeu a hora

Era uma vez uma lanterna que vivia num apartamento do Edifício Enéias Carneiro. Um dia, uma tartaruga veio ao seu encontro.
— Com licença — perguntou a tartaruga. — Por acaso você sabe onde fica o banheiro?
— O banheiro fica logo atrás daquela porta — respostou a lanterna.
A tartaruga seguiu o caminho e, no banheiro, encontrou algo peculiar. Era um projétil que foi utilizado pelo morador do apartamento 20 anos atrás num trabalho de escola que fizera na 5a série. O animal acreditara que aquilo pertenceu a alguma tribo indígena e resolveu perguntar aos moradores do quarto de dormir.
— É só uma flecha de papelão. — Disse a gravata.
— Isso aí tem pouco mais de uma década. — Falou o lápis de cor.
— Onde você encontrou isso? — Perguntou o travesseiro
— A informação que você imaginava é falsa. — Disse a lanterna, finalmente.
Após o cair da noite, a tartaruga percebeu algo na fechadura da porta. De imediato, reportou a observação a sua amiga lanterna, a qual alumiou o local a maçaneta. Vendo que não havia nada de errado, voltou a dormir.
Alguns instantes depois, a porta se abriu e uma pessoa entrou no quarto. Era Sebastião, morador daquele apartamento. Tranquila, a tartaruga continuou o sono.

Foi um momento de extrema felicidade quando a lanterna recebeu um convite do abajur para jantar em um castelo com decorações medievais. Sua amiga tartaruga levou a lanterna para fazer o cabelo, as unhas dos pés e das mãos — mesmo não tendo nada disso — e ajustar o brilho de sua luz.
Lá pelas seis da tarde, a lanterna chamou um Uber para vir buscá-la. No entanto, ela não sabia exatamente como usar o aplicativo de carona e então resolveu pegar um ônibus. Ela também não tinha ideia de como pegar um ônibus, principalmente numa cidade como Juca Leão. Foi aí que a lanterna teve a brilhante ideia de ir a pé para o castelo — a apenas 10 km do Edifício Enéias Carneiro.
O abajur, que era conhecido por sua pontualidade britânica, chegara ao local combinado com dez minutos de antecedência.
— O senhor quer dar uma olhada no cardápio? — perguntava um garçom.
— Agora não, estou esperando uma pessoa... — respondia o abajur.
— O senhor aceita um couvert? — perguntava outro garçom.
— Estou esperando...
E as perguntas repetiam-se, sempre com a mesma resposta. Até que o abajur perdeu a paciência, depois de uma hora e meia esperando, e foi embora.
Enquanto esperava o Uber, viu um feixe de luz cruzando o horizonte. Depois de cinco minutos, percebeu que o feixe de luz pertencia à lanterna, a garota que convidara para jantar.
— Desculpe a demora! — gritou a lanterna.
— Você demorou quase duas horas! Achei que não viesse! — disse o abajur.
— Resolvi ir a pé, mas como não tenho nenhum, ficou meio complicado se arrastar por aí...
— Venha senhorita, a mesa ainda está reservada para nós. Você deve estar faminta!

— Como foi o jantar? — perguntou a tartaruga, curiosa, para sua amiga.
— Foi delicioso! Nós comemos estrogonofe de frango com batata palha e, de sobremesa, mousse de chocloate! — disse a lanterna.
O debate estava tão caloroso, que as duas amigas nem perceberam a visita de uma comadre. Ela estava polinizando as violetas do quarto de Sebastião.
— Bom dia, comadres! — cumprimentou a comadre abelha.
— Olá! — disseram a tartaruga e a lanterna, em uníssono.
— Como é? Conseguiu fazer o seu marido parar de beber? — perguntou a tartaruga.
— Pode-se dizer que sim! — respostou a comadre abelha. — Do que é que as comadres estão conversando?
— Estou contando a história de quando fui a um encontro com o abajur e cheguei atrasada... — falou a lanterna.
— Isso me lembra duma história — disse a comadre abelha, puxando uma cadeira e sentando-se — de quando eu cheguei atrasada no Enem. Era uma tarde quente de final de outubro, eu e minhas amigas operárias passamos a manhã brincando em uma fonte em frente à colmeia. Foi tão divertido que nos esquecemos do horário! Uma de minhas colegas, Gertrudes, lembrou-se do Exame e dirigimo-nos para colmeia arrumar-nos. — A comadre abelha respira. — Mesmo voando a uma velocidade de 15 km/h, não conseguimos chegar a tempo e os portões fecharam-se.

Certa noite, a lanterna recebeu uma visita inesperada. Era Luigi, filho de Sebastião. O garoto acamparia com a escola durante uma semana, e ele precisava de uma lanterna. Seu pai ofereceu a sua e o menino aceitou-a.
— Muito obrigado, pai! — exclamou Luigi.
Algo aconteceu, porém, no acampamento. Uns moleques implicavam com Luigi. Eles apostavam quem lançava a lanterna mais alto que a árvore.
Na vez de Luigi, ao arremessar a lanterna, esta caiu na ribanceira próxima da árvore. Como estava escuro, era impossível ver qualquer coisa, quanto menos uma lanterna!

Aquele foi o fim de uma trajetória de longo tempo da lanterna. Depois de passar pelas mãos de Dom Amós, em 1850, ela ainda passou por Sir Timóteo Montenegro II, na década de 1880; Dr. Hélio, em 1910; Sr Sebastião, por volta de 1940; e agora, a lanterna era perdida nas mãos de Luigi, em setembro de 1953. Nunca que ela chegaria às mãos do futuro prefeito do município de Juca Leão, Heinrich Zürich.

Escrevi a história com base nesses pictogramas.

sábado, 11 de novembro de 2017

Correspondências entre Bill Clinton e Gottfried Himmel

17 de junho de 1993
Assunto: Assuntos confidenciais.
Dr. Gottfried, preciso falar com você sobre os negócios na Suíça. Você ficou de me mandar os investimentos dos padres mexicanos na Bolsa de Valores. Preciso disso para ontem, entendeu?
O presidente do Afeganistão está me pressionando para saber dos resultados da loteria de Carnaval referente ao ano de 1988. Não quero desculpas, Gottfried. Sei que você sai com a Helen nas horas vagas.
Preciso que você me mande o que te pedi AGORA!

Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos da América.


20 de junho de 1993
Assunto: Confidencial
Senhor Presidente, enviarei o que foi solicitado. Grato por chamar-me a atenção.

Gottfried Himmel, diretor da Usina Siderúrgica da Suíça.


22 de junho de 1993
Assunto: Urgente.
Gottfried, você fez algo errado? A polícia federal está batendo à minha porta dizendo que se você não tivesse feito o que eu pedi, ela iria fechar o site de relacionamentos virtuais na Suécia, na Austrália, na Islândia e no Reino Unido! Estamos falando de PROBELMAS REAIS!!! Se você não consertar o que fez, a Polícia Federal fechará o site na Europa INTEIRA!

Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos da América.


25 de junho de 1993
Assunto: [Re] Urgente.
Senhor presidente, eu tenho CERTEZA de que eu fiz tudo o que o senhor pediu. Não faltou nenhuma pendência. Não faço ideia de por que a Polícia Federal bateu à sua porta dando tal ultimato. Será que tem algo a ver com o novo CEO da Usina? Aquele que veio do Brasil?

Gottfried Himmel, diretor da Usina Siderúrgica da Suíça.


28 de junho de 1993
Assunto: Quem é o CEO do Brasil?
Dr. Gottfried, eu sinceramente não sei quem é esse “CEO do Brasil” de quem você tanto fala!
Foi a mesma coisa em Ibiza, no Réveillon de 1987, ou no Taiti, em 1991. Achei que você tinha parado de falar “O CEO do Brasil isso” “O CEO do Brasil aquilo”.
Nós somos investidores SÉRIOS! Não podemos — sobretudo eu — aguentar você falar de uma pessoa que você conheceu há anos numa convenção que nem sequer era para você estar. EXIJO EXPLICAÇÕES Dr. Gottfried.

Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos da América.


30 de junho de 1993
Assunto: Com todo respeito...
Senhor presidente, com todo respeito, o senhor é maluco. Onde já se viu falar que eu conheci um CEO qualquer e o escolhi a dedo! Isso é um ABSURDO! Que tipo de pessoa pensaria uma coisa dessas? Nunca imaginei que você fosse esse tipo de pessoa Sr. Clinton.

Gottfried Himmel, diretor da Usina Siderúrgica da Suíça.


2o de julho de 1993
Assunto: Jogo aberto
Gottfried, essa situação que você acabou de descrever foi igual à que aconteceu com o Dr. Zürich — ex-chefe dos experimentos fantásticos.
Agora estou começando a entender o que se passou... O Dr. Zürich estava conversando com você NA BOA e você vai lá e chama-o de MALUCO. Lamentável, viu? Aí, o que ele fez? Cortou relações com você e com a meretriz — porque é isso que ela é — da Helen. Pois farei a mesma coisa que o Dr. Zürich fez, cortarei relações com você e com a sua subordinada da Helen! Ponto final.

Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos da América.


4o de julho de 1993
Assunto: FELIZ DIA DA INDEPENDÊNCIA!!!
Parabéns pelo Dia da Independência! Neste dia é importante que você conviva com seus familiares e amigos mais próximos. Por isso convido-o para um churrasco em minha residência. Não precisa levar nada, apenas seus familiares! Vamos celebrar este glorioso dia!

Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos da América.


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

De Clinton a Yeltsin

10 de março de 1993
Assunto: Quais são as novas?
Senhor Yeltsin, sou eu, Hillary Clinton, primeira dama dos Estados Unidos. Como vão as coisas aí na extinta União Soviética? Meu marido anda falando muito bem da República Federativa Russa. Mas e aquele seu vício com a bebida? Continua ou já superou? Quero saber tudo! Mande notícias assim que possível.
Hillary.

12 de março de 1993
Assunto: (Re) Quais são as novas?
Sra. Clinton! Foi um prazer receber seu e-mail e respondê-lo será mais prazeroso ainda.
Não sei se foi muito vantajoso abolir a União Soviética, mas para debatermos melhor esse assunto, demandaria tempo, tanto meu, quanto seu.
Meu vício com bebida não foi superado. Também pudera, não é mesmo? Sou russo e a nós adoramos álcool. Em partes por causa do frio daqui, que é para aquecer. Sabe que um dia fui comprar meu uísque habitual na loja que tem na esquina de casa e a vendedora perguntou: “Você novamente, Yeltsin? Já é a quinta vez na semana!”.
E como vão os investimentos na Suíça? Conte-me mais!
Yeltsin.

15 de março de 1993
Assunto: Investimentos na Suíça.
Yeltsin, os investimentos na Suíça estão indo relativamente bem. Meu marido chegará amanhã de viagem que fez ao país, com o objetivo de conferir os lucros obtidos na nova indústria siderúrgica que construiu. Ele falou que o diretor da Usina é austríaco e chama-se Gottfried Himmel, um sujeito muito competente no que diz respeito às ações, aos pensamentos e na maneira de falar. Pareceu-me um homem bastante simpático.
Ouvi falar que você adotou um cachorro! Quero foto e detalhes.
Hillary.

17 de março de 1993
Assunto: Meu cachorro novo.
Sra. Clinton, eu adotei um filhote de pastor alemão há alguns dias. Eu e minha esposa o batizamos de Lênin. Ele nos traz alegria e felicidade todos os dias.
Estou pensando em fazer uma visita aos Estados Unidos para vê-la pessoalmente e cumprimentar Bill Clinton. Qual é a sua atração preferida? O que devo ver primeiro? Onde recomenda que eu passe as noites? Ficarei em Washington D.C., no entanto ainda não sei aonde vou me hospedar...
Yeltsin.

20 de março de 1993
Assunto: Dicas para estadia em Washington D.C.
Yeltsin, o clima aqui nos Estados Unidos é similar ao da Rússia, um pouco mais quente. Estamos no outono, então recomendo levar calças compridas, casacos não tão grossos, tênis esportivos (aqui tem excelentes pistas de caminhada) e outros artigos que julgue confortável.
Falei com meu marido que você está vindo para cá e ele já reservou um dos melhores e mais concorridos restaurantes de Washington D.C.! Portanto, não se esqueça de trazer uma roupa chique.
Quanto ao turismo, a capital americana tem diversos parques para caminhar e divertir-se. É possível fazer passeios guiados pelo Rio Potomac ou andar em sua margem. É lindo. Outra atração imperdível é o Museu Smithsonian. Lá, é possível encontrar de tudo, desde ciências naturais até réplicas de espaçonaves em tamanho real!
Espero que faça uma boa viagem.
Hillary.

24 de março de 1993
Assunto: Obrigado pelas dicas.
Sra. Clinton, eu gostaria de agradecer as dicas que você me deu, para minha viagem aos Estados Unidos, no e-mail anterior. Reservei as passagens com destino à Washington D.C. para amanhã.
Após ler o primeiro volume de “Guerra e paz” de Tolstoi e “Viagem fantástica” de Isaac Asimov, preciso de mais títulos para ler. Recomenda algum? Se possível, que desse para comprar aqui na Rússia...
Até amanhã!
Yeltsin.

25 de março de 1993
Assunto: Livros que li e gostei.
Yeltsin, os livros que você leu são realmente muito bons. Nesses últimos meses, li um livro interessante. O nome é “Vinte mil léguas submarinas” e que escreveu foi Júlio Verne.
Trata-se de uma equipe formada por um professor de História Natural, seu criado e um arpoador canadense, que busca investigar o motivo de tantos incidentes náuticos em diversos mares do globo terrestre. Seria uma baleia colossal? Ou um cachalote? Ou um animal marinho ainda não descoberto? Quando o professor, seu criado, e o arpoador estavam mais ou menos no sul do Oceano Pacífico, eles encontram o objeto não identificado, que acabaram descobrindo ser um submarino, conduzido por um homem misterioso chamado Nemo.
Os aventureiros acabam caindo no mar e o capitão do submarino os resgata, tornando-os prisioneiros. A genialidade de Nemo, combinada com seu perfil enigmático, é o que dá suspense à trama. No submarino, os homens vivem grandes aventuras cruzando o mundo de norte a sul e de leste a oeste.
Esta obra é uma leitura recomendada, principalmente para você, que é um sujeito apto para descobrir novos mundos, novos olhares, novas perspectivas. Imagino que esse livro esteja à venda na Rússia, porém não tenho certeza. Se não encontrar, você será bem vindo às livrarias americanas!
Hillary.

1o de abril de 1993
Assunto: Washington D.C.
Yeltsin, eu gostei de você aparecer por aqui. Foi divertido. Creio que você esqueceu um cachecol em sua estada. O hotel ligou aqui em casa e perguntou se você não quer que eles enviem para Rússia por correio.
Fico no aguardo.
Hillary.

15 de abril de 1993
Assunto: DUAS SEMANAS SEM RESPOSTA.
Yeltsin, já faz DUAS SEMANAS que eu enviei-lhe um e-mail perguntando se você não queria que seu cachecol fosse entregue na Rússia. Onde está você??? Sei que você tem seus assuntos a tratar na Rússia, mas podia reservar um tempo para escrever a mim... Fico muito solitária na Casa Branca, com meu marido indo a reuniões INTERMINÁVEIS!!! Exijo pelo menos uma resposta. Só uma resposta é o que lhe peço.
Para ser franca, Hillary.

19 de abril de 1993
Assunto: Desculpe.
Peço desculpas por não ter lhe respondido esse tempo todo. A viagem que fiz aos Estados Unidos foi, sem dúvida, excelente. Nunca havia me divertido tanto! Quanto ao meu cachecol, já pedi ao hotel aonde me hospedei e eles o enviaram tem algum tempo. Ou seja, recuperei meu cachecol e não há nada para se preocupar.
Precisarei evitar usar o e-mail para conversar com você, Sra. Clinton. Estou um tanto quanto atarefado, se é que me entende. Não é fácil coordenar um Estado que acabou de se “libertar” de um regime socialista...
Espero que entenda.
Yeltsin.

27 de abril de 1993
Assunto: Aviso.
Caro Yeltsin, este provavelmente será meu último e-mail destinado a você, decorrência do seu trabalho full time. Espero que consiga fazer o que planeja. Por enquanto, adeus.

Hillary Clinton.

Hillary Clinton (esq.), Bill Clinton (centro) e Boris Yeltsin (dir.)

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O biscoito de 96

Em certa reunião de família, as sobrinhas do Dr. Himmel procuravam algo para beliscar e acabaram encontrando um pacote peculiar. Uma das meninas exclamou:
“Vó, achamos um biscoito que venceu em 1996!”
A polícia logo foi acionada para investigar o que um pacote de biscoitos, cuja validade era 1996, fazia em plena despensa do Condomínio Edifício Enéias Carneiro. Após interrogar o pacote de arroz, a lata de sardinha, o engradado de refrigerantes, a caixa de cereal matinal e a cozinheira Alcachofrinha Augusta, a autoridade chegou à conclusão de que o biscoito era, na verdade, foragido.
Sua identidade dizia que seu nome era Herbert Rover e que havia sido produzido numa fábrica em Dallas, Texas. Segundo um boletim de ocorrência realizado em 1985, Rover pegou um táxi e dirigiu-se para o aeroporto internacional John Fitzgerald Kennedy, onde reservara a passagem com uma semana de antecedência, com destino ao Uruguai.
O pacote de biscoitos encontrou, no Uruguai, o animador de festas Juan Medellín, de 34 anos, na época, e o dançarino profissional Andrés Bogotá, de 25 anos. Juntos, partiram em uma aventura em busca do livro recém-lançado do pescador dinamarquês Harald Bjarnessen e do cientista alemão Gottfried Himmel, sobre a influência de pirulitos na migração de andorinhas euro-afro-asiáticas. O lançamento ocorreria no principal expo center de Brasília.
E assim seguiram Rover, Medellín e Bogotá rumo à capital da República Federativa do Brasil em um Chevrolet, cuja placa não pôde ser revelada. Em menos de 47 horas, os três amigos chegaram no principal expo center de Brasília para o lançamento do best seller de Harald Bjarnessen e Gottfried Himmel.
Após comprarem os livros e obterem o tão almejado autógrafo de seus ídolos, o animador de festas e o dançarino profissional foram surpreendidos pela Polícia Federal, que descobriu que eles produziam ésteres sem autorização do Estado. Sem saberem a ilegalidade de tal ato, a dupla de criminosos foi encaminhada direto para São Paulo para o devido julgamento. A pena para produção fora da lei de ésteres é de quatro prisões perpétuas! Herbert Rover, foi levado junto por ser cúmplice dos dois, mesmo não sabendo da ocorrência.
Em São Paulo, o pacote de biscoitos chegou a presenciar dez julgamentos. No décimo primeiro, ele perdeu a paciência e fugiu, sem dar notícias. O ano era 1993 e Rover precisava encontrar um supermercado para se alojar.
Um comerciante de nome desconhecido encontrou o pacote de biscoitos novinho em folha dispersado no logradouro e levou para seu estabelecimento. Regina Felix, de 42 anos, comprou, no dia 23 de dezembro de 1993, Rover, sem saber sua história, isto é, sem saber que o pacote era, na verdade, Herbert Rover.
No entanto, algo terrível aconteceu na despensa de Regina Felix no dia 16 de junho de 1996, quando Rover ainda era seu inquilino. Havia uma hierarquia entre os alimentos da despensa; produtos em grãos eram a classe operária; temperos, massas e doces, formavam a burguesia; e os enlatados e os engradados eram os grandes proprietários de terra. O conflito começou quando as latas de tomate seco — líderes do MPLD (Movimento Pela Libertação da Despensa) — declararam guerra aos tabletes de chocolate meio amargo — membros do PASC (Partido Alimentício Social Cristão).

Herbert Rover, que lutava ao lado do PASC, teve sua validade no dia 16 de junho de 1996, quando um projétil arrancou-lhe a tampa e seus produtos ficaram sujeitos às intempéries e aos fungos desavisados. A Guerra dos Tomates Secos, como ficou conhecido o conflito, teve início em 5 de junho de 1993 e término em 20 de junho do mesmo ano. Os grandes proprietários de terra conseguiram, como consequência, liberdade e reconhecimento de sua prateleira. Cerca de cem produtos perderam a validade aquele dia.

Fonte

Postagem em destaque

Motivos para não votar no PT (copypasta)

Eu encontrei esse texto em um comentário de um vídeo no youtube que mostrava um posicionamento da oposição. O autor é “Sr TNK”. 01) E...