Observação:
Tenha em conta de que este texto é conjuntural. Ele foi baseado em algo que aconteceu
há muito, depois das eleições municipais de 2016. Obrigado. Boa leitura!
Era uma vez uma senhora
suína chamada Jennifer. Ela morava com seus três filhos: Temério, Alquimista e
Dorival. Um dia, Jennifer percebeu que seus filhos precisavam cuidar de suas
próprias vidas, além de que ela já estava ficando idosa de mais.
“Queridos, como devem
perceber, estou ficando idosa e não quero que os senhores percam mais tempo
comigo. Gostaria que vocês arranjassem uma ocupação, que construíssem uma casa,
uma família... Mas cuidado com o lobo Petrônio! Ele é o cobrador de impostos
mais tirano que esta nação já teve, e é o mais temido das redondezas.”
“Teremos cuidado, mãezinha!”,
disse Dorival, o filho caçula e, consequentemente, o mais esperto.
“Mantenham contato!”,
completou a senhora Jennifer.
Os três irmãos suínos saíram
da casa, cantarolando uma música, quando se depararam com Petrônio, o lobo
cobrador de impostos.
“Ora, ora, ora...”, iniciou o
lobo. “Se não são os descendentes dos arqui-inimigos do meu descendente? Como
eram chamados, mesmo? Heitor, Cícero e Prático! E vocês, com se chamam?”
Os três suínos
entreolharam-se. Não sabiam ao certo se deveriam confiar no canídeo, mas Temério,
o irmão mais velho e, consequentemente, ingênuo, arriscou:
“Eu sou Temério, este é
Alquimista e este é Dorival.”
“Sabem, senhores, de acordo
com o Livro de Regras”, nesse caso, Petrônio referia-se à Teoria da Evolução,
de Darwin. “Somente o mais forte ou o mais esperto, ou ambos, deve sobreviver.
Estava aqui cobrando alguns impostos, quando os ilustres chegaram. Será que os
cavalheiros não gostariam de contribuir positivamente nessa coleta?”
“Sinto muito, Petrônio,
agora não podemos contribuir com nenhum recurso... Fica para a próxima, certo?”,
disse Temério.
“Tudo bem”, resmungou
Petrônio. “Mas quando nos encontrarmos
novamente, quero o dinheiro dos impostos!”
Os três suínos e Petrônio
seguiram pelo mesmo caminho até chegarem a uma bifurcação: os porcos seguiram
para a direita e o lobo para a esquerda.
Temério, Alquimista e
Dorival deram de cara com três percursos adicionais que levavam a lugares
diferentes, mas não muito distantes entre si.
Na primeira placa estava
escrito "Presidência da República (sede em Brasília) - população: duzentos
e seis milhões e oitenta e um mil habitantes".
A segunda placa dizia:
"Governo do Estado (sede em São Paulo) - população: quarenta e um milhões
e duzentos e sessenta e dois mil habitantes".
E na terceira e última placa
lia-se: "Prefeitura (sede em São Paulo) - população: onze milhões e trinta
e dois mil habitantes".
O irmão mais velho, Temério,
tomou a iniciativa:
“Sou experiente em
administrar uma quantidade "pantagruélica" de indivíduos!”, Temério
gostava de palavras difíceis. “Sou um líder nato! Por isso, irei para Presidência
da República, mostrar minha supremacia.”
E o suíno partiu.
Alquimista, o irmão mais
tímido, disse:
“Quero administrar uma
cidade em que sou respeitado pelo que faço. Quero ter seguidores, e alguns
descontentes com meu trabalho, porque um verdadeiro príncipe” (Alquimista
gostava de citar os clássicos, principalmente Maquiavel.) “deve ter amantes e
descontentes! Por isso, seguirei meu caminho para o Governo do Estado.”
E o suíno partiu.
Por fim, Dorival, o irmão
caçula, falou:
“Não sou muito experiente em
governar grandes massas, mas nem por isso deixarei de governar. Por isso,
escolherei Prefeitura e liderarei a população.”
E o suíno partiu.
Na Prefeitura, Dorival, que
era inexperiente na construção civil, fez uma casa de palha, no centro da
cidade, e no lugar mais alto, onde podia ver tudo e todos. O suíno observou que
apenas tartarugas transitavam nas avenidas e ruas principais, com uma
velocidade média de cinquenta quilômetros por hora.
A primeira coisa que Dorival
fez ao chegar a cidade foi alterar o limite de velocidade para setenta
quilômetros por hora, assim lebres, leões, jaguares e guepardos podiam circular
livremente pelas autoestradas.
Dorival também percebeu que
os símios estavam invadindo o espaço reservado aos leporídeos, canídeos e
felídeos, fazendo caminhadas. Mas nisso, o suíno não alterou nada, porque
caminhar faz bem à saúde. Ao final do dia, Dorival descansou em sua casa de
palha no centro da cidade.
No Governo do Estado,
Alquimista estabeleceu-se perto de uma grande cachoeira, onde construiu sua
casa com toras de madeira. Lá, ele podia administrar a cidade, além de matar a
sede. O suíno não tinha esse nome por nada. Ele, desde filhote, estudava os
segredos da alquimia. Então, desde que chegou ao Governo do Estado, procurou
uma grande catarata para de lá conseguir transformar água em ouro. Algum tucano
perguntou-lhe sobre crise hídrica, mas Alquimista não soube responder.
Temério construiu sua casa na
Presidência da República (sede em Brasília), que ficava mais distante que as
cidades de Prefeitura e Governo do Estado.
Sua moradia, mais luxuosa,
foi construída a partir de seus conhecimentos, apesar de ser promotor, em
construção civil. Era uma mansão térrea, majoritariamente feita de tijolos. Tinha
três quartos (um para ele e outros dois para seus irmãos, caso viessem
visitá-lo), sala de TV, banheiro, cozinha gourmet, jardim com horta, e
escritório.
Temério tratou de vários assuntos
desde que chegou a Presidência da República, como cortar alguns ministérios,
que geravam gastos desnecessários para a cidade, e decretar reformas
provisórias. Temério "rodou a baiana" na Presidência da República.
Alguns desgostavam dele, outros idolatravam-no.
Petrônio, o cobrador de
impostos, continuava sua busca pelos três suínos. Começando pela Prefeitura, o
lobo farejou os rastros de Dorival, e encontrou a casa de palha no centro da
cidade de São Paulo.
“Dorival! Sei que você está
aqui! Abra esta porta.”, disse Petrônio.
Do outro lado, Dorival
disse:
“O que você quer Petrônio? A
polícia já não lhe causou problemas o suficiente?”
“Eu quero cobrar seu
imposto!”, berrou Petrônio.
“Vai ficar querendo.”
“Então eu vou arrombar a
porta!”
Dorival, que não era
estúpido, já nas primeiras bofetadas de Petrônio na casa, fugiu pela porta dos
fundos. O suíno foi até a casa de seu irmão Alquimista, feita de madeira, no Governo
do Estado. (Dois anos mais tarde, seria Dorival quem iria morar lá em
definitivo.)
“Irmão Alqui!”, berrou
Dorival em frente à casa de Alquimista. “Deixe-me entrar abestalhado!”
“Qual é a sua graça, suíno?”,
respondeu Alquimista.
“Sou eu, seu irmão Dorival!”
“Ora essa, suíno, deixe de
frescura e entre! A casa é sua!”
Dorival entrou e sentou-se
na poltrona da sala de estar de Alquimista. O anfitrião estava lendo o Jornal.
Não era muito bonita, mas era confortável (pelo menos, era melhor que a casa de
palha).
“Esta casa é uma beleza...”,
pensou Dorival.
“Gostei da casa, irmão
Alquimista!”
“Obrigado, compadre Dorival!
Guarde minhas palavras: um dia essa moradia será sua.”
“Guardei suas palavras muito
bem guardadas.”, disse Dorival, sorrindo.
Naquele instante, a
campainha soou. Alquimista levantou-se. Dorival alertou:
“Não abra a porta! Apenas
pergunte a graça.”
Alquimista foi até a porta e
questionou:
“Quem és e o que desejas?”
“Meu nome por excelência é
Petrônio Mauro e eu estou aqui honrando a memória de minha família para cobrar
impostos de suínos neoliberais mal-encarados. Eu sei que você responde por
Alquimista e está acobertando seu irmão Dorival. Abra esta porta agora, ou eu
terei que arrombá-la.”
“Não.”, disse Alquimista.
Dorival disse alguma coisa
com os lábios.
“O quê?”, perguntou
Alquimista.
“Vamos fugir pelos fundos
até a casa do irmão Temério.”, sussurrou Dorival.
“Você ficou maluco? Está
pinel? A casa dele fica a quilômetros daqui!”, sussurrou Alquimista.
“Esqueceu que não somos
porcos ordinários? Nós fomos abençoados com velocidade supersônica, pastel.”
Em algumas horas, os dois
irmãos chegaram a Presidência da República, inaugurada em 15 de novembro de
1889, transferida de local em 21 de abril de 1960, e que se localizava no
coração do País.
A casa de Temério era uma
mansão de dez metros de altura, de tijolos e com decorações de diamantes.
Dorival e Alquimista se perguntavam de onde tinha vido toda aquela grana, mas
preferiram ficar calados. Uma chaminé brotava no telhado da mansão de tijolos.
Dorival apertou o botão do
interfone.
“Olá, caro fraterno Temério.
Somos seus irmãos Dorival e Alquimista. Viemos fugidos do terrível lobo
cobrador de impostos, Petrônio, que destruiu nossas casas. Pensamos em buscar
refúgio em sua humilde residência.”
A resposta não custou a
chegar.
“Dorival e Alquimista. Vocês
são mais que bem vindos à Presidência da República e em minha residência.
Entrem, por favor.”
Os suínos penetraram na
mansão de tijolos. Tudo era luxuoso.
“Vocês chegaram na hora
certa! Eu estou preparando fondue. Em instantes vou acender a lareira. Uh-uh!
Vai ser uma noite de Reis!”, disse Temério.
Pouco depois de acender a
lareira e terminar os preparativos do fondue, Temério sentou-se à mesa com seus
companheiros Dorival e Alquimista. De repente, ouve-se o som do interfone.
“Com a sua licença, nobres
cavalheiros.”, disse Temério.
“É o lobo Petrônio, irmão!
Tome cuidado e não abra a porta!”, alertou Dorival.
“Residência Temério. Quem
gostaria?”
“Meu nome é Petrônio Mauro,
mas você já me conhece. Eu sou cobrador de impostos, mas isso você também já
sabe. Você também já tem conhecimento de que está acobertando dois criminosos
foragidos da Lei. E aí, vocês vão me dar o que devem ou não?”
“Não.”, berrou Dorival,
arrancando o interfone das mãos de Temério. “Você já teve o poder que queria, e
isso acabou com o País! Você nunca mais vai encostar suas mãos sujas em nenhum
dinheiro de nenhum cidadão.”
“Nossa, Jureg...”, disse
Petrônio, magoado. “Então eu serei obrigado a derrubar essa adorável mansão de
tijolos que deve ter custado uma verdadeira fortuna...”
“Boa sorte.”, resmungou
Dorival.
Petrônio era pugilista
certificado e não abriu mão de suas habilidades. Esmurrou, esmurrou e esmurrou
a porta, sem nenhum efeito.
“Vocês vão me pagar pela
derrota de meus familiares!”, disse Petrônio.
O lobo, que também era um
exímio escalador, subiu pelas grossas paredes da mansão de Temério, para
encontrar uma abertura.
Enquanto isso, Dorival,
Temério e Alquimista estavam bebendo vinho moscatel e se deliciando de fondue
de queijo Emental, e escutando as melhores canções de Erasmo Carlos do Verão de
86.
“Liguem para a Polícia
Federal e avisem que pegamos o sujeito.”, disse Dorival para seus irmãos.
Petrônio entrou pela
chaminé, pensando que era o estrategista do século, e acabou virando
churrasquinho de cobrador de impostos. Que fim, hein?
O Juiz Federal veio
acompanhado dos policiais para ver de corpo presente a queda de um dos maiores
criminosos do País.
Resultado: Temério,
Alquimista e Dorival voltaram para suas atividades em suas respectivas cidades.
Petrônio foi preso. Dois anos mais tarde, em 2018, outros suínos substituiriam nossos
heróis, exceto Dorival, que mudaria de posição. Temério cederia a Presidência
da República para Afonsomaro, Alquimista cederia o Governo do Estado para
Dorival, e Dorival cederia a Prefeitura para Anchovas. Tudo parecia fazer parte
de um jogo político até então.