sábado, 6 de junho de 2020

Fuga inesperada (um caso incomum...)


O seguinte caso aconteceu no mesmo ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo FIFA, no mesmo ano em que a seleção canarinho foi derrotada pela seleção ariana alemã, e no mesmo ano em que o governo do Partido dos Trabalhadores pôs os pés (e qualquer outra parte do corpo) no Palácio da Alvorada pela última vez. Foi no mesmo ano em que o continente africano sentiu o surto de Ebola, e no mesmo ano em que o então governador vicentino emboaba paulista Geraldo Alckmin admitiu ter saciado sua sede no Sistema Cantareira de Televisão.
Eu tinha quinze anos quando tudo isso aconteceu. Eu fazia aula de teatro. Naquele ano, eu tivera duas professoras de sala e duas assistentes. A primeira professora de sala, professora Lu, teve de deixar o cargo, porque, eu imagino, estava de licença maternidade. E a primeira assistente saiu para “fazer um curso em Hollywood” (palavras dela). Sem problemas com isso. Eu gostava de todo mundo.
Mudando de panorama, a escola onde eu estudava (antes referida neste blogue inadequadamente como “Corporação”) seria equivalente ao que os ianques norte-americanos chamam de “prep school” (escola preparatória), onde os alunos seriam motivados a estudar muito para entrar em uma boa universidade (não é assim com todos...).
No começo do ano, os professores de matérias “grandes” e importantes, como Geografia, História, Matemática, Francês, Geografia, Inglês e Geografia faziam uma avaliação sondagem para “sondar” nosso conhecimento na matéria e o que foi retido do ano passado ano anterior. O estudante que fracassasse na sondagem tinha que fazer apoio pedagógico em horários vespertinos durante a semana. Os horários eram cuidadosamente selecionados para que nenhum estudante tivesse apoios pedagógicos no mesmo horário de outro apoio pedagógico.
O professor de Geografia (que também tem um blogue e eu já falei dele no artigo “Os Bastidores da Gangue do Alemão”) passou a avaliação sondagem para nossa turma. Eu fracassei e tive que ir para o temido apoio pedagógico. A questão é que o horário caiu bem na sexta-feira (das 13h30 às 14h20). Minha aula de teatro também era às sextas-feiras (das 14h às 17h30), o que fazia com que eu chegasse atrasado. (Quando eu chegava pontualmente, a professora Be, que substituiu a professora Lu, dizia que “iria chover no Sistema Cantareira de Televisão”).
No apoio pedagógico de Geografia, tinham outras pessoas, como minhas amigas da sala e um garoto que eu só vira naquele mês, e nunca mais, no apoio. Coincidentemente, eu também vira o mesmo garoto (apelidado de “Surfista”) só em algumas aulas de teatro. Eu o reconheci da escola, porque ele tinha estudado comigo no ano anterior.
Esse tal de Surfista, que tinha a pele morena, os cabelos longos e negros que nem a “asa da graúna” e adorava pegar uma praia para xavecar garotas, teve a ousadia de chegar na aula de apoio pedagógico e dizer:
Abre aspas.
“Professor, eu sou tão dedicado na sua matéria que eu até saí do curso de teatro que eu comecei a fazer no começo do ano.”
Fecha aspas.
O professor não deu a menor atenção. Ele não gostava de aduladores.
Em uma das únicas aulas de teatro que eu me lembro do Surfista, nós estávamos fazendo treino de expressão corporal. Depois disso, não vi mais rastros dele.
O resultado já é previsível: o tal do Surfista estudou muito, teve resultado satisfatório na prova parcial de Geografia, e não precisava mais de apoio pedagógico. Eu, contudo, permaneci no apoio pedagógico, evoluí para a recuperação do meio do ano e terminei o ano letivo em recuperação final. Mesmo chegando atrasado, eu continuei frequentando as aulas de teatro.
Eu tinha um incentivo, que era encontrar minhas amigas “Flor” e “Mel”. “Flor”, porém, tinha saído da aula de teatro, mas isso é assunto para outra história.

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