O
seguinte caso aconteceu no mesmo ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo
FIFA, no mesmo ano em que a seleção canarinho foi derrotada pela seleção ariana
alemã, e no mesmo ano em que o governo do Partido dos Trabalhadores pôs os pés
(e qualquer outra parte do corpo) no Palácio da Alvorada pela última vez. Foi
no mesmo ano em que o continente africano sentiu o surto de Ebola, e no mesmo
ano em que o então governador vicentino emboaba paulista Geraldo
Alckmin admitiu ter saciado sua sede no Sistema Cantareira de Televisão.
Eu
tinha quinze anos quando tudo isso aconteceu. Eu fazia aula de teatro. Naquele
ano, eu tivera duas professoras de sala e duas assistentes. A primeira
professora de sala, professora Lu, teve de deixar o cargo, porque, eu imagino,
estava de licença maternidade. E a primeira assistente saiu para “fazer um
curso em Hollywood” (palavras dela). Sem problemas com isso. Eu gostava de todo
mundo.
Mudando
de panorama, a escola onde eu estudava (antes referida neste blogue inadequadamente como “Corporação”)
seria equivalente ao que os ianques norte-americanos chamam de “prep
school” (escola preparatória), onde os alunos seriam motivados a estudar muito
para entrar em uma boa universidade (não é assim com todos...).
No
começo do ano, os professores de matérias “grandes” e importantes, como
Geografia, História, Matemática, Francês, Geografia, Inglês e Geografia faziam
uma avaliação sondagem para “sondar” nosso conhecimento na matéria e o que foi
retido do ano passado ano anterior. O estudante que fracassasse na
sondagem tinha que fazer apoio
pedagógico em horários vespertinos durante a semana. Os horários eram
cuidadosamente selecionados para que nenhum estudante tivesse apoios
pedagógicos no mesmo horário de outro apoio pedagógico.
O
professor de Geografia (que também tem um blogue e eu já falei dele no artigo
“Os Bastidores da Gangue do Alemão”) passou a avaliação sondagem para nossa
turma. Eu fracassei e tive que ir para o temido
apoio pedagógico. A questão é que o horário caiu bem na sexta-feira (das 13h30
às 14h20). Minha aula de teatro também era às sextas-feiras (das 14h às 17h30),
o que fazia com que eu chegasse atrasado. (Quando eu chegava pontualmente, a
professora Be, que substituiu a professora Lu, dizia que “iria chover no
Sistema Cantareira de Televisão”).
No
apoio pedagógico de Geografia, tinham outras pessoas, como minhas amigas da
sala e um garoto que eu só vira naquele mês, e nunca mais, no apoio.
Coincidentemente, eu também vira o mesmo
garoto (apelidado de “Surfista”) só em algumas aulas de teatro. Eu o
reconheci da escola, porque ele tinha estudado comigo no ano anterior.
Esse
tal de Surfista, que tinha a pele morena, os cabelos longos e negros que nem a
“asa da graúna” e adorava pegar uma praia para xavecar garotas, teve a ousadia de chegar na aula de apoio
pedagógico e dizer:
Abre
aspas.
“Professor,
eu sou tão dedicado na sua matéria que eu até saí do curso de teatro que eu
comecei a fazer no começo do ano.”
Fecha
aspas.
O
professor não deu a menor atenção. Ele não gostava de aduladores.
Em
uma das únicas aulas de teatro que eu me lembro do Surfista, nós estávamos
fazendo treino de expressão corporal. Depois disso, não vi mais rastros dele.
O resultado já é previsível: o tal do
Surfista estudou muito, teve resultado satisfatório na prova parcial de
Geografia, e não precisava mais de apoio pedagógico. Eu, contudo, permaneci no
apoio pedagógico, evoluí para a recuperação do meio do ano e terminei o ano
letivo em recuperação final. Mesmo chegando atrasado, eu continuei frequentando
as aulas de teatro.
Eu
tinha um incentivo, que era encontrar minhas amigas “Flor” e “Mel”. “Flor”,
porém, tinha saído da aula de teatro, mas isso é assunto para outra história.
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