segunda-feira, 30 de julho de 2018

Meus últimos dias na Corporação

Marquei um encontro com minha aliada Nina na cobertura da Corporação. Disse a ela que era muito importante e que ela deveria vir sozinha. Chovia.

— Matheus, eu tenho que te falar algo. — disse ela.

— Que coincidência. Eu também.

Estávamos próximos um do outro.

— Diga você primeiro. — eu falei.

— Matheus, como você sabe, minhas notas não estão indo bem... — ela desviou o olhar. Eu sabia onde ela queria chegar.

— Não diga mais nada. — eu a interrompi. — Eu sei como é essa sensação, querida. — acariciei seu rosto. — Eu já passei por isso. Sinto muito.

— Diga, meu amor, o que você tem a dizer. — disse Nina, com seu olhar flamejante.

— Eu fiz algumas pesquisas, pensei muito e muito, mesmo. E cheguei à conclusão de que eu não vou fazer o Ensino Médio na Corporação. Vou terminar o ensino básico em outro lugar. Não é que eu tenha medo, é que eu acho que a minha imagem aqui já está desgastada...

— Eu não sei como é isso, Matheus, mas eu compreendo a sua posição. Você deve ir para onde você se sentir melhor.

— Obrigado, Nina. — disse, sorrindo para ela. — Aliás, tem mais uma coisa.

— Diga, querido.

— Eu meio que estou envolvido em um esquema de produção ilegal de ésteres e a polícia portuguesa está na minha cola.

Quase sem acabar a frase, eu e minha aliada escutamos um som de hélices de helicóptero próximas da gente. Os portugueses haviam chegado para me prender. Em segundos, um helicóptero havia pousado no heliporto da Corporação e dezenas de atiradores de elite subiam escada acima para me prender. Uma porta se abriu. Tiros ecoavam pela cobertura e a chuva agora era uma tempestade. Eu fui baleado. Nina ajoelhou-se ao meu lado.

— Nina... — consegui dizer, em meio ao sangue que jorrava do meu corpo. — Me prometa uma coisa...

— Qualquer coisa, querido... — sua voz era um soluço atrás do outro. — Qualquer coisa...

— Me prometa que você sempre vai me amar, não importa o que estiver na nossa frente...

— Eu prometo... Eu prometo por tudo que é mais sagrado nesse mundo!

— Me beije... — disse, mas minha voz era quase um sussurro de dor.

— O que você disse? — Nina encostou seu ouvido no meu rosto. Suas lágrimas confundiam-se com a água da chuva.

— Me beije... — repeti, sentindo mais dor e perdendo mais sangue.

Sem pensar duas vezes, minha aliada Nina debruçou-se sobre mim e hesitou. Um atirador de elite se aproximou de nós.

— Eu não posso fazer isso, Matheus... — sua dor parecia ser maior que a minha. — Eu gosto de você, mas como amigo... Espero que entenda.

Engoli em seco. Eu respeitava a opinião da minha aliada.

— Você terá de vir conosco, senhorzinho. — disse o atirador de elite.

Levantei, limpei o sangue do meu rosto e um grupo de atiradores de elite me algemou. Entramos no helicóptero com destino a Portugal, para o julgamento.

Nina permaneceu na cobertura da Corporação por um tempo e depois saiu de cena.

Fim deste ato.

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