terça-feira, 19 de novembro de 2019

“Balada de Diogo Malatesta” (1856) *


*poema de Amadeo Tadeo Steinbeck (is-tain-BÉ-que ou is-tin-BÉ-que), musicado pelo grupo Os Sulfúricos.

O Diogo Malatesta
Resolveu dar uma festa
Convidou a molecada
Pra varar a madrugada.

Fez manjar de acerola
Com farinha de avelã
Todos nobres que comeram
Na barriga fez um nó.

A Josefa, coitadinha,
Mal podia se mexer
E o João, deu um nó na bunda,
Fez a casa estremecer.

O Bordalo deu um chute
Na traseira do João
E o chute foi tão forte
Foi parar lá no fogão!

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Idade Médium


O que eu estou prestes a relatar, eu não relatei a ninguém. Além disso, o evento apresentado aqui é anterior ao ocorrido com o Barão de Rothschild (ver no arquivo).
Pois bem, vamos aos fatos. Eu ainda estava na escola. Pouco tempo antes de embarcarmos para Rotterdam, eu conheci algumas pessoas. Elas pareciam ser lideradas por um cavalheiro chamado Vitor (ou Victor). O problema é que Vitor não pertencia mais ao reino dos Vivos. Ele era uma alma penada. E seus amigos eram seus pajens, guardiões do Hades.
Eu descobri isso já no primeiro contato. Vitor e seus guardiões vagavam pelo laboratório de ciências, procurando um meio de fazer a transição. Eu os reconheci pela aura azulada que todo espírito tem. A alma estava em um processo conhecido como Umbral, em que os espíritos ficam aprisionados no mundo mortal até cumprirem uma determinada pena. Vitor e os pajens procuravam por um portal para o Hades, enquanto liam diversos livros de alquimia.
“Posso ajudar em alguma coisa?”, perguntei, sendo eu considerado um especialista no assunto.
TME?”, sibilaram os espectros.
Na hora, eu não entendia nada. Mas depois eu saberia que eles não queriam dizer TME, e sim PNE, que é uma espécie de verme que circula pelas nossas entranhas. Então, repeti a pergunta:
“Vocês precisam de ajuda?”
Vitor e seus pajens avançaram em mim, mas eu, conhecido no assunto, peguei um punhado de sal grosso e atirei neles, que escaparam.
Na manhã seguinte, fui falar com outro especialista, Monsenhor Franco Paranhos, pároco de minha escola. Ele dizia ser neto do barão do Rio Branco.
Ele me disse para fazer tudo o que os espíritos me pedissem. Perguntei:
“De onde vieram esses espíritos?”
“São espíritos vindos do mundo dos Mortos. Eles foram expulsos de lá, e têm que cumprir uma pena aqui.”
“Como foi que eles morreram?”
Monsenhor Franco pegou uma garrafa de licor de rosas e serviu um copo.
“Aceita?”, ele ofereceu. “Eu trouxe de um convento do Rio de Janeiro.”
“Não, obrigado, Monsenhor.”, recusei. “Eu sou menor de idade, não bebo.”
O pároco prosseguiu:
“Nos anos 1990, um grupo de estudantes da sexta série invocou uma entidade poderosa do mundo inferior, conhecido por alguns de Hades. Por incrível que pareça, essa entidade pertencia às crenças hebraicas. Esses garotos, dos quais Vitor era o líder, queriam brincar com o mundo sobrenatural. No entanto, eles não contavam com a força de tal empreitada. Eles conseguiram invocar o demônio, mas o feitiço apoderou-se do corpo de Vitor, consumindo-o até a morte.”
“Existe uma razão para que o espírito de Vitor tenha chegado até você, Maxwell. Vitor quer que você realize um último desejo que ele tinha em vida: liberar o feitiço aprisionado da entidade hebraica, e assim voltar ao mundo dos mortos.”
“Quem eram os pajens que o acompanhavam?”, perguntei.
“Os pajens são criaturas criadas pelo próprio Plutão, ou quem quer que esteja comandando o mundo lá embaixo. Apenas eles podem ir e vir de lá sem prestar contas ao Criador.”
Monsenhor Franco bebeu o que sobrou do licor de seu copo.
“Você está enxuto, Maxwell, já pode lidar com os espectros. Receba o que tem que receber, e terá a salvação garantida.”
Era um dia frio. Encostei-me à parede próxima ao laboratório de Ciências (último lugar que vi Vitor e os pajens). O corredor estava vazio. De repente, eu ouvi um barulho vindo de dentro do laboratório. Com cautela, abri a porta e caminhei pela sala até chegar ao centro e ficar de pé, aguardando as ordens.
“Estou aqui Vitor!”, disse, abrindo os braços.
Vitor apareceu bem na minha frente, sibilando.
“Muito bem, Maxwell. Aqui está a sua tarefa.”
Um frasco com líquido marrom surgiu abaixo de meus pés.
“O que é isso?”
“É um amuleto. Meu amigo de Israel me deu. Preciso que você abra na presença de alguém que você conhece bem, a Redentora das Tribos.”
Pensei um pouco. Quem poderia ser a Redentora das Tribos da qual Vitor se referiu? Então, por meio da cadeia de associação de imagens, cheguei à teoria de que poderia ser uma senhora com a qual tenho me correspondido nos últimos meses. Seu nome era Orlandina, e ela trabalhava em uma tenda no Parque da Velha Cigana, como vendedora de produtos exotéricos.
“Você tem a minha palavra.”, disse eu, pegando o frasco e colocando na mochila.
Depois da aula, peguei a bicicleta e fui para o Parque da Velha Cigana, onde Orlandina trabalhava. Apresentei o frasco para ela, que não se impressionou.
“Hebreus, você disse? Ora, Max, porque não disse logo? Vamos logo despachar esse infeliz!”
Nós fomos até os fundos do Parque. Orlandina me alertou que o frasco continha uma grande quantidade de gás metano, e por isso poderia entrar em combustão a qualquer momento.
Ao abrir o frasco, com certa dificuldade, porque eu tinha onze anos, quase doze, quando isso aconteceu, eu senti um forte cheiro de enxofre e metano misturados. Parecia que aquilo era uma bomba de fedor! Alguns instantes mais tarde, uma fumaça azul libertou-se e começou a tomar corpo.
“Livre, finalment.......”, disse a fumaça.
Mal a fumaça, que acreditei ser a entidade, pode completar sua frase, Orlandina jogou uma mistura de óleos aromáticos e Bom Ar, e tudo aquilo que outrora aparecia em nossa frente desapareceu como num passe de mágica.
“Isso deve surtir efeito!”, disse a exotérica, satisfeita. “Venha, Max, temos que fechar sua visão.”
“Você vai me deixar cego?”
“Sim e não. Eu vou fazer algo para impedir que você veja mais coisas sobrenaturais.”
De volta à tenda, Orlandina me deu um chá para tomar e leu alguns Salmos. Eu comecei a me sentir meio sonolento e, quando percebi, estava inconsciente. Tudo o que eu me recordo é de acordar no dia seguinte durante uma aula no laboratório de Ciências, sentindo um forte cheiro de enxofre...
“Maxwell!”, chamou o professor.
“Presente!”, disse eu, levantando de sobressalto.
“Você estava dormindo no meio da explicação. Eu estava dizendo que vamos trabalhar com certos gases hoje, eles são fortes, e por isso podem causar dores de cabeça, náusea, enjoos...”.
Eu só conseguia pensar na minha empreitada. Teria eu libertado e exterminado uma entidade sobrenatural? Seria eu médium? Essas dúvidas iriam me assombrar por mais alguns anos.

Postagem em destaque

Motivos para não votar no PT (copypasta)

Eu encontrei esse texto em um comentário de um vídeo no youtube que mostrava um posicionamento da oposição. O autor é “Sr TNK”. 01) E...