quarta-feira, 13 de março de 2019

Porque o Barão de Rothschild estava certo




Retratação: O relato que eu estou prestes a contar subverte qualquer opinião que você possa ter sobre o Barão de Rothschild. Discrição do leitor é necessária.

O Barão de Rothschild nunca foi com a minha cara. Nós nos conhecemos no ano de 20_ _, ainda na escola.
Certa vez, em viagem à cidade de Rotterdam, ele abriu o jogo para mim.
Na época da viagem, eu dividia o quarto com o Visconde de Chesterfield (Jan Vector) e o Barão de Rothschild. Depois de um longo dia fazendo observações de campo, o Visconde de Chesterfield, como um bom fluminense, foi vender suas substâncias ilícitas para nossos colegas de turma e, de quebra, jogar pôquer com seus comparsas.
O Barão de Rothschild ficou no quarto estudando o mapa de Rotterdam (e onde esconder seu patrimônio, caso fosse preciso...). Eu, por minha vez, saí para tomar uma fresca no pátio da estalagem. Na realidade, o que eu queria, era ver as senhoritas, condessas e baronesas descendo dos coches. Que cena maravilhosa! Naquele tempo, eu admirava duas donzelas: condessa de M... e senhorita de S... Era uma alegria vê-las.
Houve um ano em que eu propusera à senhorita de S... para compromisso, mas eu recebi como resposta um tiro no peito. No ano seguinte, eu vira a senhorita de S... de mãos dadas com um advogado e presumi que eles estavam compromissados. Eu fiquei fulo da vida e enchi a cara de salsaparrilha.
Quando eu voltei para o quarto, o Barão de Rothschild estava plantado, próximo à cama me olhando com um olhar severo. A cama que eu escolhi para dormir ficava próxima à parede, ao lado da porta, e a cama do Barão de Rothschild ficava próxima ao banheiro. Entre a minha cama e a dele ficava a cama do Visconde de Chesterfield.
“Visconde de Assis! Entre. Nós precisamos conversar.”
Eu entrei e fiquei exatamente entre a minha cama e a parede.
“Você é um m****. Você não presta para nada. Todo mundo, ou melhor, ninguém na escola gosta de você, porque você é um b****.”
“Por que você está falando assim de mim?”, eu perguntei.
“Você não reconhece, seu incompetente? Você é um lixo. Você estraga tudo o que você encosta.”
“Eu fiz algo de errado?”
“Sim, seu idiota. Você nasceu. Eu não quero mais ver você.”
Pronto. Aquela foi a gota d’água. “The last straw”, como diria meu amigo americano. Claro que não foi o suficiente para chorar, mas eu senti um aperto no peito. Eu deitei na cama, me contorci e fechei os olhos. Foi como se o Barão de Rothschild tivesse me dado um soco, ou pior, um tiro na barriga. Mas ele estava certo. Tudo o que ele dissera aquele dia estava certo.
De repente, alguém entra no quarto. Era o Visconde de Chesterfield. Ele parecia contente, porque ganhara no pôquer inúmeras vezes seguidas, deixando seus amigos no chinelo, além de ter feito lucro vendendo suas substâncias ilícitas para os estudantes ginasiais.
“O que aconteceu com o Visconde de Assis?”, perguntou o Visconde de Chesterfield, olhando para mim.
“Ele é maluco. Não repare nesse tremendo vexame.”, disse o Barão de Rothschild.
O Visconde de Chesterfield mudou de assunto.
“A duquesa de Vermont nos convidou para jantar na Maison de Trois. Você quer ir?”
“Essa tralha precisa ir junto?”, perguntou o Barão de Rothschild.
“Não.”, riu o Visconde de Chesterfield.
Assim, o Visconde de Chesterfield e o Barão de Rothschild me deixaram no quarto escuro sozinho. Naquela noite, eu não comera nada; não tivera apetite.
Com relação ao que o Barão de Rothschild dissera, eu não sirvo para nada. Eu sou inútil a ponto das pessoas só repararem em mim se precisarem de alguma coisa.
Enquanto eu escrevo essas memórias, me lembrando do que aconteceu 9 anos atrás, eu concordo com tudo o que o balofo do Barão de Rothschild me dissera, ou quase tudo.
Eu não sei o que motivou ele a falar isso de mim, mas eu tenho minhas hipóteses. Uma delas é que nós gostávamos da mesma garota — a condessa de M... — e fazer o que ele fez seria uma forma de demarcar território, que nem um cachorro quando encontra uma árvore ou um poste.
Dois anos no futuro a partir daí, eu conheceria o Conde Rubro que, apesar de ter o mesmo nome do Barão de Rothschild, é tão maligno quanto!
Se você quiser conhecer a história do Conde Rubro, procure no arquivo pelo título “Os bastidores da Gangue do Alemão”.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Motivos para não votar no PT (copypasta)

Eu encontrei esse texto em um comentário de um vídeo no youtube que mostrava um posicionamento da oposição. O autor é “Sr TNK”. 01) E...