quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Fichamento: "Reinações de Narizinho" (Monteiro Lobato)

 


(LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Círculo do Livro, 1921. 310 p.)

 

Resumo

Descreve o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Caracteriza os personagens de acordo com suas qualidades. Utiliza o bom-humor para prender a atenção do leitor. Tendo em vista, a época (anos 1920), é possível observar ideias racistas e sexistas ao longo da obra. Dialoga com personagens de outras histórias, fazendo intertextualidade. Apresenta personagens como o Marquês de Rabicó, o Visconde de Sabugosa, a boneca Emília, o Doutor Caramujo e o Príncipe Escamado. Não conclui a história, deixando espaço para mais aventuras acontecerem. Tem um bom uso de palavras da língua portuguesa, assim como gramática, sintaxe e pontuação. O autor faz paralelo com sua infância no interior de São Paulo na obra.

Palavras-chave: Sítio. Aventuras. Literatura. Infância. Imaginação.

 

Fichamento

Nessa passagem, do capítulo intitulado “Sítio do Pica-Pau amarelo”, o narrador fala da busca de Narizinho por muletas para a boneca Emília, que teve a macela de sua perna entregue ao Tom Mix. Narizinho e Emília encontram um besouro que fora “abusado” por Narizinho no início do livro.

Narizinho foi. Três esquinas adiante encontraram o besouro mendigo, de chapéu na mão à espera de esmolas. A menina já lhe ia oferecendo um pedacinho de bolo quando o mendigo perguntou:

- Não me reconhece mais?

[...]

Pesarosa de sua desgraça, Narizinho pô-lo no bolso, dizendo:

- Fique quietinho aí e divirta-se com esses bolos. Vou levá-lo para o sítio de vovó, onde poderá viver uma vida sossegada sem ser preciso tirar esmolas. (LOBATO, p. 63)

 

Nessa parte, Narizinho e a boneca Emília são convidadas para conhecer o Reino das Abelhas, mas ficam em dúvida se o convite veio das Abelhas ou das Vespas. Assertivamente, elas chegam à colmeia e são recebidas com honra. Narizinho faz um comentário sobre o modo de vida das abelhas.

- Já reparou, Emília, como é bem-arrumado este reino? Uma verdadeira maravilha de ordem, economia e inteligência! Estive no quarto das crianças. Que gracinha! Cada qual no seu berço de cera, com pernas e braços cruzados, todas tão alvas, dormindo aquele sono gostoso... O que admiro é como as abelhas sabem aproveitar de modo que a colmeia funcione como se fosse um relógio. Ah, se no nosso reino também fosse assim... Aqui não há pobres nem ricos. Não se vê um aleijado, um cego, um tuberculoso. Todos trabalham, felizes e contentes. (LOBATO, p. 67-8)

 

Esse capítulo, intitulado “As aventuras do príncipe” (p. 117), conta quando o Príncipe Escamado e sua comitiva visitam o Sítio de Dona Benta, pouco depois do casamento de Lúcia (Narizinho) e Escamado. No excerto abaixo, podemos ver a magnanimidade /humildade /generosidade de Príncipe Escamado quando Dona Benta e Tia Nastácia estavam “com medo” dos convidados do Reino das Águas Claras.

- Nesse caso, prefiro voltar – disse [o príncipe] com dignidade. – Não me julgo com direito de perturbar o sossego duma tão respeitável senhora. (LOBATO, p. 121-2)

 

Nesse capítulo, intitulado “O gato Félix” (p. 145), um suposto gato se diz ser o Gato Félix e reúne o pessoal do Sítio para contar “sua história”. Estão presentes, Tia Nastácia, Dona Benta, Lúcia (Narizinho), Pedrinho, a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa (um milho embolorado de cartolinha dentro de uma lata), e o suposto Gato Félix. Na passagem, intencional ou não, Lobato faz uma citação direta ao acidente do Titanic, que aconteceu nos anos 1910.

- Espere. Estava eu comendo o último rato que comi no navio, quando rompeu lá em cima um berreiro. Subi ao tombadilho para ver o que era e encontrei o capitão dizendo que o navio tinha batido numa pedra e ia afundar. (LOBATO, p. 149)

 

No capítulo intitulado “O circo de cavalinhos” (p. 221), Visconde de Sabugosa sofre uma “overdose de conhecimento” e precisa passar por uma cirurgia para remover “manias de ciência” que entalaram em seu estômago. O médico responsável seria o Doutor Caramujo. No excerto, o narrador descreve a “casa” do Visconde de Sabugosa, o que explica por que ele é tão inteligente.

A casa do Visconde era um vão de armário da sala de jantar. Dois grossos volumes do dicionário de Morais formavam as paredes. Servia de mesa um livro de capa de couro chamado “O Banquete”, escrito por um tal Platão que vivia antigamente na Grécia e devia ter sido um grande guloso. A cama era formada por um exemplar da “Enciclopédia do riso e da galhofa”, livro muito antigo e danado para dar sono. Mas desde que o Visconde ficou uma semana inteira atrás da estante e criou bolor pelo corpo inteiro, não era ali que ele dormia, para não sujar o chão com seu pozinho verde; dormia na lata. Outro “móveis” – armarinhos, cadeiras, estantes, também eram formados dos livros de capa de couro que Dona Benta havia herdado de seu tio, o Cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira. Era naquela casinha que o Visconde passava a maior parte do tempo, lendo, lendo que não acabava mais – e tanto leu que empanturrou. (LOBATO, p. 223)

 

No capítulo intitulado “Pena de papagaio” (p. 247), um garoto invisível com uma pena de papagaio os leva para o “mundo das maravilhas” para conhecerem os fabulistas La Fontaine e Esopo. La Fontaine explica o modo de vida das formigas.

– Não param nunca, sempre ocupadas nos trabalhos caseiros – prosseguiu. – Cortam folhas, picam-nas em pedacinhos e guardam-nas em perfeitos celeiros para que fermentem. Nessas folhas um cogumelozinho se desenvolve, com o qual se alimentam. São insetos de alta inteligência. A muitos respeitos a formiga está mais adiantada que nós, homens. Há mais ordem e governo na sociedade delas. São mais felizes. (LOBATO, p. 262)

 

Logo, Lúcia (Narizinho), Pedrinho e a boneca Emília encontram o fabulista grego Esopo, que diz “palavras de sabedoria”. Esopo fica muito admirado quando descobre que a boneca Emília é falante.

O grego sorriu com malícia.

– Nós, sábios, também não fazemos outra coisa. – disse ele. – Mas como dizemos nossas tolices com arte, o mundo se ilude e as julga alta sabedoria. Vamos bonequinha, diga uma tolice para o velho Esopo ver. (LOBATO, p. 267)

 

Resenha crítica

A obra “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, é um excelente livro para jovens leitores e leitores mais maduros. Não existe idade para leitura. Lobato é um grande escritor da literatura brasileira, sendo um dos principais autores do movimento Pré-Modernista, junto de Euclides da Cunha, Lima Barreto e Augusto dos Anjos.

O livro me lembrou de outros livros infanto-juvenis publicados nos séculos XVIII e XX, como o Barão de Munchausen (de Rudolf Erich Raspe, citado pelo próprio Lobato), Gulliver (Jonathan Swift), Gente e Bichos (Érico Veríssimo), e outros. Pode-se dizer que, como autor infanto-juvenil, Monteiro Lobato é um Ás.

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