A
Gangue do Alemão era uma organização criminosa, integrante da Sociedade
Quadrada, que atuava na Corporação. Tive o infortúnio de conhecê-los quando eu
estudava no sétimo andar. A Gangue era composta por quatro meliantes: Geisel, o
cérebro do grupo; Rousseff, o mancomunado; e Teryaki e Imperador, os cupinchas.
Em
2011, a sexta ordem — atual sétimo andar — teve em torno de onze agentes que
preferiram estudar no mesmo andar no ano seguinte por livre e espontânea
pressão. Como eu reprovei a quinta ordem, eu reencontrei a maioria no ano
seguinte, ou seja, no sétimo andar de 2012. Um dos repetentes era Rousseff, um
agente que costumava implicar com minha voz por volta da quarta ordem. Outro
repetente era Geisel que, junto de Imperador e Teryaki, formavam o pior grupo
de encrenqueiros do andar — a recém-referida Gangue do Alemão. Para meu
infortúnio, Rousseff e Geisel compartilhavam a mesma sala que eu. Felizmente,
meu aliado G... estava do meu lado e — como um garoto robusto, no bom sentido —
me defendia quando podia.
Um
dos piores eventos envolvendo esses garotos maus aconteceu na viagem que
fizemos à Antuérpia, no litoral sul de São Paulo. Depois de um dia longo e
cansativo, os tutores nos liberaram pelo QG para descansar. Eu estava
procurando um local agradável para ler um bom livro, quando Imperador chama meu
nome. Sigo-o para seu dormitório que, coincidentemente, é o mesmo de Rousseff,
Geisel e Teryaki. Um dos criminosos me dá uma régua e diz:
“Meça
o Bráulio!”
“O
quê?”, perguntei. Nesse momento, Geisel levantou-se e trancou a porta atrás de
mim. Bráulio é código que a Corporação usa para designar o órgão genital
masculino.
“Vá
ao banheiro e meça o Bráulio!”, disse o mesmo criminoso, aumentando o tom de
voz.
Fiz
exatamente o que ele pediu e voltei para frente deles.
“Quanto
deu?”, perguntou Teryaki, que era asiático.
“Três
centímetros...”, disse, tímido.
Os
meninos caíram na gargalhada e eu pedi para que liberassem a chave, para eu
sair o mais rápido possível do aposento.
“Só
com uma condição!”, gargalhou Geisel. “Você terá que fazer tudo o que nós
quisermos, a partir desse momento.”
Involuntariamente,
concordei e o cérebro da organização destrancou a porta.
Mais
tarde, quando estava numa parte empolgante do livro que estava lendo, Imperador
chama meu nome mais uma vez, dizendo para me dirigir à sala de jogos.
Encaminhei-me para lá, onde Geisel pegou um taco de snooker,
empurrou-me em um canto e começou a fazer gestos obscenos com o taco,
inserindo-o e retirando-o repetidas vezes do David Ricardo. Ninguém nunca soube
disso. David Ricardo é nome que a Corporação usa para designar a parte traseira
do organismo humano, onde termina o cóccix.
Ainda
nessa viagem, num dia que visitamos a Ilha do Fernando Henrique, resolvi usar o
banheiro. No entanto, a cabine do banheiro de onde estávamos era completamente
escura e não havia luz elétrica dentro. A porta fechava e o indivíduo apenas se
localizava com uma luz fraca vinda de uma janelinha.
Enfim,
entrei no banheiro, mas, devido às circunstâncias descritas acima, deixei a
porta da cabine levemente encostada. Algo aconteceu que a
porta abriu e eu senti uma leve pressão nas costas. Instintivamente, virei e,
nisso, não havia colocado o Bráulio para dentro da calça. Foi horrível. Tinha
meninos e meninas na fila do banheiro. O conde de R... e a senhorita de L...
foram os primeiros a ver e, estagnados, foram direto reportar aos tutores que
nos acompanhavam que, no caso, eram o tutor de Economia Global e a coordenadora
pedagógica. A bronca foi imensurável. Isso fora o sermão que levei da
orientadora L... quando voltamos à cidade de Juca Leão (SP), mas isso é assunto
para outra história.
Já
em Juca Leão (SP), mas vários dias depois, após regressarmos da aula de
Ginástica, Geisel me agarrou e chamou seu amigo Imperador para o ver fazendo
gestos obscenos em mim, como simular que estou chupando seu Bráulio. Vale
lembrar que Geisel era um ano mais velho que eu, portanto, se eu tinha treze
anos, ele tinha quatorze. Como conclusão, a sentinela do corredor de gabinetes,
Zezé, viu a bagunça de Geisel e nos mandou para sala da orientadora L..., eu
como vítima e ele como agressor. Como punição, Geisel levou uma advertência.
Não é preciso ser um gênio para adivinhar que a Gangue do Alemão era
comandada por um figurão da Sociedade Quadrada. Bernoulli, o comerciante
italiano, era seu nome. Eu já sabia disso, afinal a tal organização é a principal organização que se opunha à
Sociedade Excêntrica. Minha aliada Natalie havia me fornecido todos os
respectivos dados e perfis da Gangue. Agora só restava uma coisa: eliminar de
uma vez por todas o comerciante.