Na distante cidade de Juca Leão (interior de São
Paulo) — em junho de 1912 —, o vento soprava com a mesma velocidade que nos
dias anteriores. Plantas eram regadas. Bolos eram deixados à janela para
esfriar. Crianças brincavam junto à calçada. Nada muito anormal ocorrera nas
últimas semanas. Pelo menos por enquanto.
Matheus, Eduardo, Isabela e Sofia — integrantes do
grupo de espionagem e investigação MEIS — reuniam-se em seu quartel general
para discutir assuntos importantes como decidir a cor do novo tapete da
recepção.
“Imagino que mostarda combine com o vidro da janela”,
dizia Eduardo.
“O tapete deve ser rosa!”, implicava Isabela.
De repente, ouve-se um som surdo, como se algo caísse
em território alheio.
“Ouviram isso?”, perguntou Sofia.
“É apenas o jardineiro cortando a grama”, disse
Matheus.
“Estou referindo-me ao outro barulho!”, Sofia
continuava. “Precisamos investigar.” Dizendo isso, Sofia, que era alta, tinha
cabelos longos e não se importava com o que falavam sobre o que ela não deveria
fazer, saiu do QG rumo à fonte sonora.
Os integrantes estavam na frente da casa das Begônias
Amarelas. Havia uma cápsula enorme soterrada no solo, formando uma cratera bem
na garagem!
“É um óvni!”, disse Jonas, o vizinho da esquerda. “Ele
vai nos matar!”
“Pior!”, disse Maria Joaquina, sua esposa. “Ele fará
ensopado da gente e depois nos comerá com crouton!”
Mais tarde, saiu do óvni, meio desorientado, meio
cambaleante, meio atordoado, um garoto, de mais ou menos 10 anos. Ele estava
nu.
“Não há o que temer.”, disse Matheus, o líder do grupo
da Salvação (MEIS). “Estamos aqui...”
“Para ajudar.”, completou Isabela.
O grupo levou o garoto extraterrestre para seu quartel
general, deu-lhe o que vestir e alimentaram-no. Quando o alienígena já estava
satisfeito, Eduardo aproximou-se dele e perguntou:
“Quem é você e de onde veio?”
Ele respondeu que seu nome era Thiago Afonso e que
morava no planeta Azeitona, no país de Javalândia. Seus pais haviam enviado-o
ao planeta Terra devido a recente invasão em Azeitona, como uma esperança aos
Javalandeses. Thiago pousara numa supernova, para abastecer e “fazer uma
boquinha” (palavras dele) quando percebeu que estava despencando e caiu diretamente
na Terra.
Os quatro amigos entreolhavam-se, maravilhados e
incrédulos.
“Devemos comunicar as autoridades?”, perguntou
Isabela, cética.
“Se fizermos isso”, disse Sofia “o Governo submeteria
o garoto a testes e isso poderia machucá-lo”.
Thiago Afonso puxou a manga de Matheus.
“Posso me juntar ao grupo de vocês? Tenho
experiência...”
“Se você quiser juntar-se a nós, pequeno...”, disse
Eduardo.
“Você deve merecer.”, completou Isabela.
“Passará por uma série de provações, assim poderemos
ter certeza de que você é digno de pertencer ao grupo da Salvação — o MEIS.”,
disse Matheus.
Os amigos sabiam que chegara a hora de comunicar
Marcello Bernoulli.
Marcello Bernoulli, mais conhecido como “Bebelaytor”,
era um imigrante italiano que veio ao Brasil tentar a vida como comerciante. Na
verdade, quando ninguém estava olhando, Bernoulli era o arqui-inimigo do MEIS,
e sua arma mais poderosa e temida levou o nome da alcunha de seu criador, e era
capaz de retardar a idade das pessoas.
O grupo da Salvação levou Thiago Afonso para uma sala
escura e fechada, depois saíram, deixando o garoto a sós. Pelo menos por um
instante. As luzes acenderam-se e uma cadeira de rodinhas revelou-se. Havia um
homem sentado nela. Thiago viu a cadeira girar-se, apresentando um homem vestindo
um terno risca-giz e uma gravata cor-de-rosa. Ele segurava um gato e fumava um
charuto. Um chapéu Fedora pendia em sua cabeça.
“Você deve ser o alienígena Thiago Afonso”, disse o
homem. “Meu nome e Marcello Bernoulli, mas pode me chamar de ‘Bebelaytor’”.
Thiago Afonso não respondeu.
“Seus novos amigos me chamaram para provação.”,
continuou o comerciante. “Você é capaz, bambino?”
“Nós vamos lutar?”, gaguejou Thiago. “De onde eu venho
nós aprendemos a lidar com as adversidades com diálogo...”
Bernoulli deu uma risada seca.
“Mas nós não estamos no lugar de onde você veio.”
O imigrante italiano arremessou o gato e o charuto
para longe, levantou-se em direção ao garoto e desferiu-lhe um soco. Thiago
Afonso caiu no chão.
Bernoulli riu.
“Isso será fácil demais! Você é muito fraco.”
O garoto levantou-se, tirando a poeira dos ombros e,
limpando o sangue no canto da boca, disse:
“Isso não são modos de tratar um estrangeiro.”
Thiago Afonso socou aqui, ali e depois aqui, de novo.
No entanto, suas ações não tinham efeito contra o italiano durão.
Bernoulli riu. O sangue começou a fluir pelos
capilares do menino. Lembranças de Javalândia invadiram sua mente. Lembrou-se
de sua família, seus amigos, seu treinamento, seus superpoderes... De uma vez
por todas, Thiago sentiu-se mais forte que um crocodilo no cio. Deu um salto e,
ao retornar ao solo com o punho cerrado, causou uma movimentação que fez atirar
Marcello Bernoulli às alturas!
Matheus, Eduardo, Isabela e Sofia — que estavam
observando tudo — entraram na sala e disseram, em uníssono: